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Mulheres em situação de rua
A escola do morador de rua é o mundo, onde se vive as dores da vida.”
(W.A., moradora de albergue)
Por Thaís Milson
De acordo com o Decreto Federal nº 7.053/2009 (que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua), entende-se por população em situação de rua: o grupo populacional heterogêneo que compartilha da condição de pobreza extrema, vínculos familiares fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, procurando os logradouros públicos (ruas, praças, jardins, canteiros, marquises e baixios de viadutos), as áreas degradadas (dos prédios abandonados, ruínas, cemitérios e carcaças de veículos) como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente, podendo utilizar albergues para pernoitar e abrigos, casas de acolhida temporária ou moradias provisórias (BRASIL, 2009).
Em São Paulo, de acordo com o Censo da População em situação de rua realizado em 2011, há aproximadamente 14.478 (quatorze mil quatrocentos e setenta e oito) indivíduos, sendo 6.765 (seis mil setecentos e sessenta e cinco) em situação de rua e 7.713 (sete mil setecentos e treze) em centros de acolhida da capital. Deste total, 12% são mulheres (cerca de mil seiscentos e oitenta mulheres das mais variadas faixas etárias).
Trazer a questão de gênero para essa discussão tem suas especificidades, pois estamos contextualizando uma forma diferente de sobreviver, porém, o papel feminino nas ruas, não se diferencia totalmente da realidade de muitas mulheres que estão inclusas na sociedade.
Nas intervenções que participei com a população de rua, tive a oportunidade de conhecer algumas mulheres, dentre elas contarei a história de Glória. Negra, com a idade por volta de 40 anos, era quase imperceptível, mas estava grávida de quatro meses. Viciada em crack e há dez anos vivendo na rua, transformou o entorno da estação da luz em seu lar. Com 1,75 de altura, aparentando pesar menos de 50 kilos, para sobreviver, Glória conta com o auxilio dos abrigos, entidades religiosas e esmolas.
Em nossos encontros, eram perceptíveis as marcas de violência física em seu corpo, quando questionei o que havia acontecido, Glória explicou que em uma das batidas policiais no local em que estava, acabou sofrendo agressão policial, prática habitual da policia, para dispersar a concentração de moradores de rua da região. Glória relatou a dificuldade de conviver nas ruas e a necessidade de proteção “na rua a gente tem que ficar esperta, se bobear roubam e batem na gente” palavras de Glória ao se referir sobre a relação com outros moradores de rua.  Seu companheiro, também morador de rua e coletor de recicláveis, é segundo ela, seu protetor e quem a ajuda no dia-a-dia.
Segundo TIENE (2004), as mulheres em situação de rua nunca estão sozinhas, procura conviver em grupos como forma de proteção, muitas procuram companheiros para se sentirem seguras, sendo muitas vezes submetidas sexualmente para garantir a segurança de outros. Viver na rua, para as mulheres é também construir essas relações necessárias ao seu cotidiano.
Glória, apesar da vulnerabilidade, do desamparo de direitos legais, preconceito, exposição à violência, fez das ruas o seu lar, o seu modo de vida, e no cotidiano, desenvolve formas especificas de sobrevivência, tornando a rua um espaço de referência, criando as suas próprias relações e a identificação com esse novo modo de vida, pois encontra pessoas nas mesmas condições de sobrevivência. É necessário removermos os preconceitos e nos aproximarmos mais dessas mulheres, conhecendo suas histórias, lógicas de sobrevivência, necessidades, esperanças, retirando a capa de invisibilidade que a sociedade insiste em manter ao marginalizá-las.
É necessário politicas públicas especificas para as mulheres em situação de rua, garantindo cuidados diferenciados. Pensar em uma política social para essas mulheres, vai além de  construir abrigos/albergues, mas sim locais que produzam a oportunidade de ter melhor qualidade de vida.
Público do Estado de Minas Gerais –MPMG. Cartilha Direita do Morador de Rua Ministério, 2010.
TIENE, Isalene. Mulher moradora na rua: espaços e vivências. Mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social, PUC-SP, 2000.

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Força Feminina – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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