Diante do contexto epidemiológico da pandemia do Coronavírus (COVID-19) no mundo, é possível observar um cenário transcendente à fatores biológicos e processos clínicos. O isolamento social é visto pelas gestões dos estados do Brasil como a principal saída de emergência, frente à expansão da pandemia do COVID-19 no mundo. Porém, importante salientar os impactos no tocante as questões relacionadas à classe, a raça e de gênero (DAVIS,2016) implícitos desde o surgimento dos primeiros casos registrados pelo Ministério da Saúde – o que será resultante partindo da compreensão maior do recorte de gênero.
No Brasil, é real que esta pandemia reflete em um maior impacto na vida cotidiana das mulheres solteira (em sua maioria), chefes de família, economicamente ativa, que depende diariamente da dinâmica do “dia a dia” para sobreviver. População esta que, quase em sua totalidade, encontra-se em situação de vulnerabilidade social e de extrema pobreza, frente ao contexto mundial da pandemia do COVID-19.
A questão do isolamento social evidencia uma série de contradições. No atual cenário econômico,existe um número alto de pessoas desempregadas;inúmeras delas migrando para o trabalho informal, o que direciona para uma série de reservas durante os dias de confinamento, isso conta muito para mulheres que exercem a prostituição e consequentemente, enfrentam diretamente a pobreza; aquelas que precisariam estar em um local seguro para preservar sua saúde e a de seus filhos. Considerar a ausência de saneamento básico adequado, o que impossibilita essas mulheres de atender as orientações do Ministério da Saúde no tocante ao estado de quarentena.Entretanto, muitas delas dependem do “dia a dia” para conseguir clientes ou vender alguma coisa, para garantir o dinheiro da dormida em hotéis para sua família, ou ainda, garantir ser a primeira da fila na porta da associação comunitária de alguma igreja,ou ainda,esperar em umas das praças centrais da cidade (às vezes o dia inteiro) para garantir a noite um prato de sopa, pão e café.
Com o alerta do CODIV-19, a equipe do Projeto Força Feminina(uma Unidade da Rede Oblata Brasil em Salvador – BA) percebeu mudanças significativas na rotina diária das mulheres assistidas pela unidade em decorrência ao estado de isolamento social. Entende-se que essa pandemia tenha um recorte de classe, raça e gênero com impactos maiores na população em situação de vulnerabilidade, sobretudo, para as mulheres que dependem da fluidez do comércio para levar alimento para a mesa. A solidão tem sido uma condição muitas vezes cruel, já que, pela configuração do espaço das praças do centro da cidade de Salvador, conseguir dinheiro não era tão difícil como está sendo nos últimos tempos. As assistidas do PFF em depoimento para os educadores veem a rua e toda sua dinâmica, como lugar mágico e energético; lugar possível de comunicação constante vindas de todos os lados; onde brigas e desafetos muitas vezes, cede espaço para relações parceiras, momentos de fidelidade, amizade e de comunidade. É preciso ter todo um jogo de cintura para viver da rua. É com vigilância constante que lidando diretamente com a rua e sua dinâmica se é garantido o sustento do dia. Durante o período de isolamento social por consequência do CODIV-19, algumas mulheres dizem se sentir sozinhas, não tendo até como se comunicar com amigos e parentes.
Sobre a percepção de relatos e inquietações de algumas assistidas do projeto, muitos estes são relacionados à deficiência do sistema de saneamento básico.Segundo levantamento do corpo técnico da Unidade da Rede Oblata Brasil – Unidade Salvador (Projeto Força Feminina), a maioria das mulheres que frequentam o projeto contam que vivem em lugares aglomerados e sem ventilação. Para além das questões relacionadas às demandas alusivas à distribuição do que seria justo – isso no âmbito geográfico da divisão dos espaços sociais -,as interfases da violência contra a mulher,soma-se a esse contexto. Tais fatores podem implicar na atuação direta dessas mulheres para o controle social na participação ativa na corrente de solidariedade do trabalho coletivo que se ergueu nesse momento, na tentativa de barrar os números relacionados à curva de transmissão pelo Coronavírus no Brasil – a atuação da população usuária na política e de profissionais da assistência social e da saúde.
MAPEAMENTO DA REDE SOCIASSITENCIAL DE SALVADOR
COVID 19
O trabalho em Rede no Serviço Social é vital para o funcionamento das políticas públicas de assistência social. Esta junção tem sido um dos elos que compõe o desenvolvimento da assistência social quase em toda sua totalidade. Em todo estado da Bahia, medidas estão sendo implementadas; medidas estas previstas na Política Nacional de Assistência Social – PNAS, 2004 têm sido aplicadas pelas gestões: estadual e municipal, sendo voltadas unicamente a pessoas em situação de vulnerabilidade social e de extrema pobreza – no caso da população em situação de rua.Tanto o governo do estado da Bahia quanto à prefeitura de Salvador deram desenvolvimento a uma série de medidas com a finalidade de conter o avanço da pandemia. Fundamentalmente serão destacadas aqui, as medidas relacionadas à assistência social, da saúde e da previdência.
Os serviços da Rede – saúde, social, segurança – estão funcionando normalmente e/ou com algum esquema especial. A prioridade neste momento é a não interrupção das medidas de segurança que são cruciais para o combate ou prevenção do COVID 19, mas também a resolução de outras demandas que somam paralelamente à pandemia, como é o caso da violência contra a mulher e o monitoramento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher –PNAISM (2004). É importante destacar a atuação na Rede de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher – Bahia, que mesmo com suas fragilidades devido à dinâmica política, quase sempre sem “pernas” para atuar mais incisivamente no enfrentamento da violência contra a mulher, vêm chamando a atenção dos governantes no que consiste a uma análise social de gênero mais ampla, neste cenário de isolamento social.
Abaixo seguem serviços do Centro de Salvador – mais acessados pelas mulheres:
SERVIÇO |
SITUAÇÃO |
HORÁRIO |
CRAS CENTRO HISTÓRICO |
ATIVO Atendimentos de extrema urgência |
09 às 15 |
CASARÃO DA DIVERSIDADE |
ATIVO |
|
CREAS |
ATIVO |
|
DISTRITO DO CENTRO HISTÓRICO: Ø SAE SÃO FRANCISCO; Ø UNIDADE DA FAMÍLIA -TERREIRO DE JESUS; Ø 19º CENTRO DE SAÚDE; Ø CONSULTÓRIO DE RUA; Ø CENTRO DE SAÚDE CARLOS GOMES. |
ATIVO Funcionando normalmente. Voltados neste momento para a Campanha de H1N1 |
ADMINISTRATIVO. |
MOVIMENTO DE POPULAÇÃO DE RUA |
Funcionando regularmente. Fornecendo Cesta Básica |
|
PROJETO AXÉ |
FECHADO. Sem acompanhamento dos usuários/as |
|
DPE BA – NÚCLEO DE SAÚDE MENTAL, DIREITOS HUMANOS E POP RUA |
ATIVO
|
|
NUAR |
ATIVO |
ADMINISTRATIVO |
CENTRO POP DOIS DE JULHO |
ATIVO |
|
CORRA PRO ABRAÇO |
ATIVO Atividades pontuais. Campanha de arrecadação de materiais de higiene e doação ao público da rua. |
|
CAPS |
ATIVO Atendimento individual de psiquiatria Orientações Acompanhamentos de casos urgentes |
ADMINISTRATIVO |
ABORDAGEM SOCIAL |
ATIVO |
|
CENTRO DE CONVIVÊNCIA IRMÃ DULCE |
FECHADO. Sem acompanhamento aos usuários/as |
Dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS, plantão de atendimento:Diretoria de Proteção Social Básica (DPSB) se reuniu em equipe e estabeleceu um plantão de atendimento dos 28 CRAS espalhados pela cidade de Salvador, será realizado em polos, de segunda a sexta-feira, das 9h às 15h.
Plantões Sociais Territoriais dos CRAS:
Plantões Sociais Territoriais dos CRAS: |
|
CRAS 1 Lobato |
Polo das Unidades – Lobato, Itapagipe e Parque São Bartolomeu; |
CRAS 2Paripe |
Polo das Unidades -Paripe e Plataforma; |
CRAS 3 Itapuã |
Polo das Unidades- Itapuã e Bairro da Paz; |
CRAS 4 Centro Histórico |
Polo das Unidades – Centro Histórico e Brotas; |
CRAS 5 Narandiba |
Polo das Unidades – Narandiba, Nordeste e Boca do Rio; |
CRAS 6 Cajazeiras |
Polo das Unidades – Cajazeiras e Águas Claras; |
CRAS 7Calabetão |
Polo das Unidades – Calabetão, Mata Escura e Pau da Lima; |
CRAS 8 Fazenda Grande do Retiro |
Polo das Unidades-Fazenda Grande e Liberdade. |
CRAS Unidades com Plantões Especiais Territoriais (três vezes por semana) |
|
CRAS Nova Esperança/Ceasa; |
|
CRAS São Cristóvão; |
|
CRAS Federação; |
|
CRAS Ilha de Maré, |
|
CRAS Ilha de Bom Jesus; |
|
CRAS Parque São Cristóvão; |
|
CRAS Valéria. |
Já os CRAS Lagoa da Paixão e CRAS Engomadeira, atuarão duas vezes por semana.
É nos momentos onde o pânico se instaura que se faz necessário respostas e atitudes éticas tanto dos representantes dos governos estadual, municipal e federal, quanto dos profissionais que atuam na ponta da assistência social, da saúde e todos os trabalhadores do SUAS.Haja vista que o Governo Federal precisa criar seu plano de ação emergencial, dando maior suporte aos estados da federação e aos profissionais da assistência e da saúde que estão arduamente trabalhando para garantir o direito à vida em todo Território Nacional. Ademais, ter o compromisso social em resposta à solidariedade em amplitude dos direitos humanos.
É importante que a compreensão do trabalho em Rede deva ser percebida em sua amplitude;Rede esta que se configurarem diferentes situações, neste caso,no tocante ao contexto epidemiológico atual que o País vivencia.A garantia de direitos no atendimento de assistência multidisciplinar dentro e fora de território de abrangência.
Texto:Simone Alves
Assistente Social – Projeto Força Feminina, Salvador-BA
Referências:
BRASIL, Ministério da Saúde: Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.; Secretaria de Gestão Estratégica e Participação, ano 2007, Brasília DF.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL, Planalto http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm –Lei do Sistema Único de Saúde – 8.080 de 19 de setembro 1990.; “Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”, Brasília DF 1990. Acesso em 25 de março de 2020;
BRASIL, Ministério do Desenvolvimento e Combate a /Fome: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf.-“Política Nacional de Assistência Social – PNAS/ 2004, Norma Operacional Básica – NOB/SUAS” – Brasília DF -2004. Acesso em 25 de março de 2020;
DAVIS, Angela, 1944 – Mulheres raça e classe; tradução Heci Regina Candiani. – 1.ed. – São Paulo: Boitempo- 2016.
Saiba mais sobre nós:
2 comentários sobre “A Importância da Atuação em Rede em Tempos de Coronavírus em Salvador – Bahia.”
Excelente análise do atuais momento que estamos vivenciando, ressalta a importância do funcionamento das Redes de serviços, do pápel dos gestores municipal e estadual, além de informar os equipamentos e seu funcionamento, párabéns!
Tânia,
Obrigada pelo seu comentário! Continue nos lendo.
Abraços,