Bem estar e saúde mental das mulheres em tempos de pandemia

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A pandemia provocada pelo novo coronavírus,transmitida pelo vírus SARS-CoV-2, é assunto em todo o mundo desde o surgimento no final do ano de 2019, em Wuhan na China, quando os primeiros casos começaram a brotar e se espalhar. Por volta de março de 2020, a doença já estava presente em mais de 100 países, passando a ser caracterizada como pandemia, termo utilizado para descrever uma situação em que determinada doença apresenta uma distribuição em grande escala, espalhando-se por diversos países.

Além dos fatores biológicos presentes na pandemia, é fundamental olharmos para os aspectos psicossociais e relacionados a nossa saúde mental, visto que diante da disseminação da doença, aumento significativo de mortes em todo o mundo, junto às medidas de isolamento social e quarentena temos observado efeitos diversos deste cenário no nosso bem estar.

De acordo com o material produzido pelo Ministério da Saúde, “Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19”, algumas das reações que a população, em sua maioria, pode estar sentindo diante da pandemia são: preocupação com a pandemia, medo de adoecer, medo de ficar desempregada(o), medo de perder quem amamos, ser excluído socialmente por estar com a doença ou com sintomas, angústia por estar longe e sem contato com as pessoas do seu cotidiano, tristeza e/ou estresse por não poder circular nas ruas, impotência diante do acontecimento, entre outras reações emocionais. Assim, temos nos inquietado, como é possível pensar o bem estar e saúde mental das mulheres em tempos de pandemia, sabendo-se que as mulheres já enfrentam diferentes batalhas causadas pelo racismo e machismo, por exemplo?

Desse modo, o cenário tem se agravado com as condições de instabilidade econômica do país, em que o número de mulheres que adentram o mercado informal como saída para lidar com o desemprego tem crescido bastante. Além disso, as medidas de cuidado e isolamento social não têm dialogado com a realidade da maioria da população, revelando o quanto as desigualdades sociais estão presentes. Afinal, muitas mulheres vivem em lugares onde as condições básicas de saneamento básico e segurança social, por exemplo, não chegam.

 

No documento “Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe: Dimensões de Gênero na resposta”,publicado pela ONU destacamos o seguinte trecho:No Brasil, onde a população feminina sofre violência a cada quatro minutos e em que 43% dos casos acontecem dentro de casa, essa preocupação é real

Sabendo que a maioria das mulheres negras (pretas e pardas) e indígenas deste país é alvo, historicamente, da negação de direitos básicos, as consequências advindas da crise sanitária, de saúde e econômica potencializa os efeitos dos agravantes advindos da pandemia, sobretudo na vida dessas mulheres. Muitas delas, além de pensar na sua sobrevivência, também são as cuidadoras de suas famílias, desdobrando-se para conseguir garantir a renda, autonomia financeira, o cuidado do lar, e outros papeis exercidos, como as que são mães e/ou cuidam de outras pessoas de seus vínculos sociais, sendo o seu autocuidado, muitas vezes, deixado de lado.

Por isso, reforçamos a importância de olharmos para a situação das mulheres pensando acerca dos fatores estressores e produtores de vulnerabilidade que se intensificam, atualmente, com a pandemia. Para ilustrar, dados do Relatório produzido pelas organizações Think Olga e Think Eva retratam o quanto a violência contra a mulher tem se mostrado evidente, visto que com isolamento social, as que se encontram em situação de vulnerabilidade podem estar mais perto dos agressores, além de distantes de possíveis redes de apoio. No documento “Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe: Dimensões de Gênero na resposta”,publicado pela ONU destacamos o seguinte trecho:No Brasil, onde a população feminina sofre violência a cada quatro minutos e em que 43% dos casos acontecem dentro de casa, essa preocupação é real.

Desse modo, como pensar a garantia de direitos, proteção social e bem estar dessas mulheres em tempos de pandemia? Um desafio eminente, que requer ações individuais e coletivas, neste momento de caos, no qual muitos sofrimentos se intensificam desde a fome aos casos de violência, precisamos fortalecer as redes existentes nas comunidades, serviços socioassistenciais, serviços de saúde, continuar cobrando dos poderes e órgãos públicos a garantia de direitos. No Estado da Bahia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, por exemplo, estão sendo realizadas medidas para fortalecer o atendimento a essas mulheres vítimas de violência e estratégias outras de acolhimento.

Além disso, as rotinas dentro de casa devem ser reinventadas de acordo as possibilidades, a fim de que as distribuições de tarefas e responsabilidades sejam partilhadas de forma a reduzir a sobrecarga de funções exercidas pelas mulheres. Vale lembrar que a área da saúde, limpeza e serviços gerais é representada, em sua maioria, pelas mulheres, que neste momento estão também fazendo parte da linha de frente do enfrentamento ao coronavírus.

Para as mulheres quem têm a possibilidade de estarem em isolamento social, é importante lembrar do seu autocuidado, buscar momentos – durante a sua semana – dedicados a si, descobrir o que te dá prazer, fazer programações que potencializem o seu bem estar e o sentimento de felicidade, buscar através do autoconhecimento realizar atividades que tragam o sentimento de satisfação e felicidade, se possível se permitir mudar sua rotina, delimitar horários para as atividades de trabalho, pois muitas pessoas acabam trabalhando mais quando estão em casa. Caso não consiga lidar com todos os sofrimentos decorrentes da pandemia, lembre-se que você não está sozinha, busque ajuda de um(a) profissional qualificado(a), como psicóloga(o). Inclusive existem profissionais que têm realizado atendimento online e através de telefone gratuitamente a fim de prestar uma escuta e acolhimento que podem auxiliar a lidar com as emoções e sofrimentos decorrentes da pandemia e de outras situações de vida.

Por fim, não poderíamos deixar de convidar você a também colaborar no enfrentamento dessa realidade, de acordo as suas condições, pois a solidariedade também é uma ferramenta importante para juntas, juntos e juntes lidarmos com os agravantes da pandemia. Uma ligação, uma doação, a divulgação de iniciativas que estão sendo feitas, a contribuição particular de cada pessoa podem fazer toda a diferença!

Reflexão de Maelli Arali, Psicóloga CRP-03/21006, mestranda em Psicologia (UFBA), voluntária no Força Feminina e ONG Gina.

 

 

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Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Força Feminina – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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