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‘Lei Maria da Penha é imbecil’, diz Fechine após denúncia de agressão

Ator zombou de acusação: ‘Fazer o quê se sou gostoso? Ela que saiu se batendo toda’
A Lei Maria da Penha é imbecil e drástica”. A frase é do humorista Renato Fechine Pimentel, 50 anos, acusado de espancar a ex-namorada Alexsandra do Nascimento, 43, na segunda-feira (22). Em sua versão, o ator negou que tivesse agredido a mulher, disse que a briga não existiu e que Alexsandra teria agredido a si mesma. “Tudo isso é mentira. Eu estou vendo minha filha chorando, porque o que ela [Alexsandra] está dizendo sobre mim é irreversível”, afirmou ao CORREIO nesta segunda (29), quando o caso veio à tona. (Abaixo, leia um relato de Alexsandra sobre a relação com o humorista).

Segundo Fechine, no dia do ocorrido, a mulher teria pedido para ir até sua casa, porque estava com “saudades”. Ao chegar ao local, Alexsandra teria ficado com ciúmes de algumas amigas dele e, quando as convidadas foram embora, a ex-namorada começou a bater em si mesma. 
“Posso fazer o quê se eu sou gostoso? Ela ficou com ciúmes. Ela que quebrou o copo na cabeça e saiu se furando e se batendo toda”, alegou, em tom de deboche.

Ainda segundo Fechine, depois das agressões, a mulher teria tomado remédios junto com vodca para dormir. Dois dias depois, quando ela ainda estava na cama, ele afirmou ter jogado um balde de água para que Alexsandra levantasse. “Eu peguei o balde e joguei, porque já tinha pedido pra ela sair da minha cama. Ela saiu de lá de casa dizendo que ia fu… comigo”, contou.
Sobre as outras duas ocorrências registradas, em julho e outubro do ano passado, ele disse que a mulher chegou a chamar a polícia. “Ela surtou um dia e chamou a polícia aqui pra casa”, comentou. 


Drásticos índices de violência

Diferente do humorista, a promotora Livia Vaz, coordenadora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem) do Ministério Público (MP-BA), acredita que a Lei Maria da Penha é mais do que necessária. Segundo ela, a lei vai além do viés criminal. “Já salvou e salva muitas mulheres”, afirma Livia.

Para a promotora, a lei traz medidas protetivas, que servem de amparo para mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Essas medidas envolvem a distância da vítima em relação ao agressor, a proibição de contato, a suspensão de visitas para mulheres com filhos pequenos.

Sobre a afirmação do humorista, que classificou a lei como “imbecil e drástica”, ela ainda diz: “Drásticos são os índices de violência contra a mulher”.

Lívia explicou que as mulheres costumam passar por um ciclo de violência nos relacionamentos abusivos. Ela diz que nesse ciclo existem paixões repentinas e inesperadas, além de grandes promessas de amor. As agressões, nesses casos, começam verbalmente e depois fisícamente. “Geralmente, a mulher se engaja nesses relacionamentos, porque a própria sociedade contribui para isso. Existe uma naturalização nas situações de violência contra a mulher”, explica. A promotora comenta que esses ciclos não têm fim, porque o homem volta a fazer as promessas de amor e de mudança. 

Outro ponto importante que a representante do MP-BA destaca é sobre casos de feminicídio. Para Lívia Vaz, esse tipo de crime raramente vem sem aviso prévio. “Começam com as agressões verbais, até culminar na violência física e, depois, vai para a fatal”, conclui.
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Confira abaixo um relato de Alexsandra sobre a relação com Fechine e a série de agressões que afirma ter sofrido:

“Ficamos juntos de seis a sete meses, mas eu conheço Renato há três anos, quando eu ficava com um amigo dele e ele ainda era casado. A gente ia pra casa dele, em Ipitanga, e era um convívio legal. Passei um ano em São Paulo e quando cheguei ele estava solteiro e eu fui assistir a uma peça lá no Teatro Módulo. Quando ele me viu, começou a me elogiar. Começamos a namorar logo de imediato e já foi intenso, porque eu ficava mais na casa dele do que na minha. Quando eu dormia na minha casa, era uma vez ou outra. Depois de dois meses de relacionamento, em junho, eu comecei a perceber a parte mais agressiva dele, principalmente a verbal. Por exemplo, ele fazia um escândalo com tudo. Nos três primeiros meses, ele começou a me agredir com tapas. Quando ficou mais grave, não aguentei e vim dar a primeira queixa da delegacia, mas não compareci à audiência. Depois, nós reatamos e quando ele me agrediu novamente, em outubro, dei outra queixa e não compareci. A última queixa foi dessa última vez, no dia 22, porque não teve jeito. Ele quase me matava. Achei que ia morrer.”
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“Na primeira agressão eu fiquei desfigurada, tanto que fui passar 20 dias no interior, porque estava com vergonha. Na segunda, ele já não me deixou tão machucada, porque eu joguei jarro, e chamei a polícia. Reatamos depois do Ano-Novo e ele agrediu dessa forma. Meu olho nem abria, a minha orelha tá machucada, eu dei entrada três vezes no Hospital Geral do Estado (HGE). As agressões foram de tapas e murros e eu não podia fazer nada, porque ele tinha muita força. Não podia deixar isso acontecer novamente.”
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“A maioria das brigas era por causa do álcool com ciúmes. Ele não tem dia pra parar de beber. Tinha briga que o motivo não era comigo, por exemplo, quando ele tentava fechar um contrato e não dava certo ele descontava em mim, que era a pessoa que estava mais perto. Depois chorava, às vezes ficava pirado e eu ia. E depois ele se arrependia e vinha.”
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“Ele está dizendo que eu sou maluca, que eu tomo remédio, mas ele fez uma coisa que eu acho que homem de caráter não faz: deixou um amigo meu ver uma foto íntima minha. Imagino que mais gente tenha essa foto. Acho um absurdo  isso. Ele diz que eu sou louca, mas como eu teria condição de dar um murro no meu ouvido, no meu olho? Acho que seria impossível. E as câmeras do prédio também mostram.”


Quem é Renato Fechine
Ator, cantor, compositor e humorista, o paraibano Renato Fechine chegou em Salvador em 1981. Ele iniciou a carreira aos 12 anos tocando guitarra. Na capital baiana, fez sucesso ao compor músicas para bandas como É o Tchan, Asa de Águia e Eva.

Fechine é o dono das letras Dança da Cordinha, Nova Loira do Tchan, Lamba Tchan, Rasta Chinelo, Tempero do Amor, Prometo te Esperar, Da Cama Pro Computador e Coração de Timbaleiro.
Além das composições, o humorista dividiu o palco com os primeiros artistas da axé music. Entre eles, Sarajane, Ricardo Chaves e Luiz Caldas. Apesar dos hits na cena carnavalesca, Fechine se firmou cantando forró e tem dez discos gravados. Um deles, Amigos do Forró (2008), contou com participação especial de artistas como Ivete Sangalo, Durval Lelys e Flávio José.
Fechine também marcou presença no teatro. Ele participou de peças como Os Cajajestes e, atualmente, estava em cena com a peça Só Acontece Comigo. O artista, que mora em Salvador, é pai de duas filhas.
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, Renato Fechine vai ser intimado a comparecer na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) para prestar depoimento.

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Força Feminina – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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